Os Livros, as Tradições e a Educação Artística
Em qualquer parte do mundo, as crianças adoram ouvir contar histórias, mesmo quando já sabem ler e são autónomas na leitura. Nos nossos dias, desaparecidos os velhos contadores de histórias que tinham como único recurso a sua voz e imaginação para estimular a fantasia das crianças e manter vivas as tradições orais, são os livros o amparo disponível para pais, avós e professores.
Mas quantas vezes, estes novos contadores de histórias se sentem incapazes de competir com os inúmeros apelos das novas tecnologias, quantas vezes se sentem incapazes de despertar o interesse da criança pelas personagens dos contos tradicionais, quando, a cada dia, nascem novas personagens nas televisões e nos tablets, que rapidamente ganham três dimensões e aparecem à venda nas lojas de brinquedos?
Será o livro um objeto obsoleto, condenado a perder lugar frente aos inesgotáveis recursos das novas tecnologias, ou será a ponte que une a tradição e a modernidade? Sem a interatividade que as novas tecnologias permitem, sem os sons, o movimento ou a música, será que os livros ainda fazem sentido para as crianças do séc. XXI?
A verdade é que não só os livros conseguem fazer a ponte entre a tradição e a modernidade como podem ainda ser uma porta aberta para outras formas de arte como a música, a pintura, o cinema, a dança ou o canto. Foi este o desafio que lançámos este ano aos professores da Escola Portuguesa do Mindelo: lerem uma história e ensinarem as crianças a ouvir essa história contada por uma orquestra ou por uma companhia de ópera, ou ensiná-las a ver uma história contada em bailado ou transposta para o cinema.
Em geral, os professores não têm quaisquer dúvidas sobre a importância da educação artística no desenvolvimento integral do aluno, mas reconhecem que nem sempre se sentem à vontade para guiar a criança nessas viagens pelo mundo das artes. Apontam a necessidade de formação específica, com vista à aquisição de mais conhecimentos e competências que lhes permitam promover a educação artística dos seus alunos, mas a verdade é que, mesmo uma sólida formação cultural não seria suficiente, pois que selecionar e adequar o imenso património artístico mundial aos interesses e desenvolvimento das crianças implica dispor de meios, recursos pedagógicos e equipas multidisciplinares.
Assim, para apoiar os professores na educação artística dos nossos alunos, a Biblioteca da Escola Portuguesa do Mindelo adquiriu uma coleção de livros infantis que incluem cd’s com excertos selecionados de sinfonias ou de óperas, inspiradas em histórias da tradição universal, como O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, A Flauta Mágica, de Mozart, Hansel e Gretel, de Humperdinck ou A Cinderela, de Rossini e, sempre que possível, adicionaremos à história e à música desses livros, excertos de bailados ou de filmes. No próximo ano será a vez de adquirirmos livros que contem as histórias por detrás ou por dentro de quadros de pintores famosos, mas o livro continuará a ser o ponto de partida para a magia de uma sessão de histórias e uma porta de entrada no universo das artes.
Ana Cordeiro