Kuzola
Querido diário,
Hoje, cheguei à escola com a mochila cheia, não de livros, mas de comida para a visita ao Lar Kuzola. Finalmente, chegou o dia de entregar os donativos que recolhemos, desde que a Thayane lançou a ideia, quando nos aproximámos do Natal.
Eu ia cheio de curiosidade, porque não sabia o que nos esperava. O transporte parou dentro das instalações do lar e fomos descendo com os caixotes e os sacos para entregar.
Fomos recebidos pela diretora do lar, que nos explicou que a palavra “Kuzola” significa “Amor” em Kimbundo. Ela disse-nos que aquela instituição recebia crianças dos 0 aos 14 anos, e que, mais importante do que tudo, tentava dar-lhes afeto e perspetivas para um futuro melhor. Depois, levaram-nos a ver algumas crianças com menos de 7 anos que estavam numa sala a brincar. Encontrámos dois meninos em cadeira de rodas com uma espécie de paralisia cerebral. Um deles estendeu-me a mão, vi logo nele um sorriso estampado no rosto. Devia estar feliz com a visita. Eu correspondi-lhe e apertei a sua mão.
Em seguida, fomos a uma sala onde dormiam alguns bebés… O meu primeiro pensamento foi: “Como é que alguém tem coragem de abandonar crianças tão fofas?” Havia uma bebé que parecia ter apenas alguns meses de vida, mas na verdade tinha mais de 4 anos!!! Foi um choque para todos…
Fomos também ao dormitório dos rapazes, que pareciam envergonhados com a presença de tanta gente. Ao sair de lá, passámos por uma zona onde meninos de três e quatro anos estavam a almoçar e, enquanto passávamos, eles chamavam-nos de “Mamã” ou “Papá”, como se tivessem realmente a noção das suas realidades e sentissem falta do amor paternal.
Nesse momento, apercebi-me da sorte que tenho em crescer com o apoio e o carinho dos meus pais.